O ventrículo esquerdo (VE), frequentemente, é visto como estrela principal do sistema cardiovascular. É bem verdade que, em última instância, uma adequada função do VE é essencial para a apropriada manutenção da pressão arterial e perfusão orgânica.
No entanto, devemos sempre lembrar que o VE é alimentado pelo seu irmão (muitas vezes esquecido e negligenciado) ventrículo direito (VD). A pré-carga do VE é resultado do débito cardíaco do VD, após passar pela circulação pulmonar. Estas duas câmaras, separadas pelo septo interventricular, funcionam em série num circuito fechado, em regime de interdependência ventricular, sendo que a disfunção do VD acarreta em problemas para o VE e todo sistema circulatório.
Várias são as situações em que o paciente crítico pode apresentar disfunção de VD e prejuízo hemodinâmico. Os mecanismos envolvidos podem ser sobrecarga pressórica, volêmica ou redução da contratilidade miocárdica. Alguns exemplos são: tromboembolismo pulmonar, ventilação mecânica com pressão positiva, miocardiopatia da Sepse, valvopatias, hipervolemia, hipertensão pulmonar em suas várias etiologias e Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA). Nesta última, a prevalência de tal disfunção gira ao redor de 25%. Alguns estudos demonstram que cor pulmonale agudo pode existir em até 50% dos pacientes em unidade de terapia intensiva. A disfunção do VD está associada a maior mortalidade destes pacientes.
O VD possui formato anatômico complexo, dificultando a avaliação quantitativa da sua função através da fração de ejeção ou cálculos volumétricos. No entanto, o movimento sistólico do VD na direção longitudinal, ou seja, da base em sentido ao ápice, guarda boa correlação com sua fração de ejeção. Assim, a estimativa da excursão sistólica do plano do anel tricúspide (TAPSE, do inglês tricuspid annular plane systolic excursion) se torna uma forma fácil e rápida de qualificar a função sistólica do VD, pois justamente representa a amplitude do movimento da base em direção ao ápice do VD (figura 01). Esta aferição deve ser feita na janela apical de 4 câmaras alinhando o cursor do modo M com a base lateral do anel tricúspide (figura 02). Assim, será formada uma imagem em aspecto sinusoidal, a qual representa o deslocamento desta estrutura ao longo do ciclo cardíaco. A altura desta onda representa a TAPSE (figuras 03 e 04). O valor normal da TAPSE é ≥ 16 mm.
Figura 01: Representação esquemática da janela apical de 4 câmaras. Cursor no modo M alinhado ao anel lateral da tricúspide. A seta indica o sentido do principal movimento sistólico do VD.
Figura 02: Imagem ecocardiográfica da janela apical de 4 câmaras e o cursor do modo M alinhado ao anel lateral da tricúspide.
Figura 03: Representação esquemática do movimento sistólico e diastólico do anel lateral da tricúspide ao longo do tempo no modo M. A excursão, ou amplitude, deste movimento é a TAPSE.
Figura 04: Imagem ecocardiográfica do movimento ou excursão sistólica do anel lateral da tricúspide ao longo do ciclo cardíaco (TAPSE) no modo M de 24 mm.
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Referências:
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