Talvez você já tenha vivenciado a seguinte situação: você acompanha um parente seu em um serviço de pronto atendimento de algum hospital e, depois de instantes, vocês são chamados para a avaliação médica. Você presencia toda a consulta e, observando as expressões faciais que o médico de plantão deixa escapar, já pressente que a coisa não vai bem. Você controla sua angústia e segura suas perguntas até que o médico diz que seu parente será internado na UTI pois se trata de um “paciente grave”.
Talvez a primeira imagem que venha à mente sobre uma UTI é a de um local fechado, artificial, cheio de alarmes, onde os pacientes ficam isolados do mundo e onde presença dos familiares só serve para atrapalhar. Um local onde a palavra do médico é a lei e o que se passa por lá é complexo demais para ser compreendido por quem não seja profissional da área.
Se você já vivenciou ou está vivenciando uma situação semelhante, te convido a desconstruir antigos conceitos e a formular novos. Nas próximas linhas, vamos mostrar nossa visão de UTI, para quê ela serve e como trabalhamos diariamente para atingir nossas metas.
Geralmente os pacientes chegam à UTI provindos do pronto atendimento, da enfermaria ou do centro cirúrgico. E, independente de onde ele venha, sabemos que se trata de um paciente complexo. Que está passando por um momento de doença aguda, descompensada ou de pós-operatório, onde há risco iminente de piora ou de deterioração clínica.
Todas as decisões sobre o tratamento passam direta ou indiretamente pelo médico intensivista. Sim, existe essa especialidade! O médico intensivista fez a escolha de cuidar de pacientes graves e passou pelo treinamento necessário para conduzir casos críticos, onde não há tempo para se perder e a margem de erros é bem pequena. Para cada sinal e sintoma que o paciente apresenta, o intensivista é capaz de formular três ou mais hipóteses diagnósticas. Ele reúne conhecimentos de diversas áreas da Medicina: Clínica Médica, Neurologia, Cardiologia, Nefrologia, Infectologia, Nutrologia, Radiologia, Anestesiologia, Cuidado Paliativo, etc. Além disso, ele é treinado na realização de procedimentos como ultrassonografia e punção de acessos vasculares. Tudo isso com o objetivo de traçar diagnósticos precisos, com o menor tempo e instituir o tratamento correto o mais prontamente possível.
E, não obstante essa formação tão completa, o intensivista não trabalha sozinho. Para cada paciente internado em UTI há cerca de sete outros profissionais o auxiliando a conduzir os cuidados: enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, nutricionistas, farmacêuticos, fonoaudiólogos, psicólogos e assistentes sociais. Todos com igual importância. Sem falar em outros médicos especialistas e assistentes que acompanham o paciente em conjunto com o médico intensivista.
Em outras palavras, a UTI funciona como um time de futebol: cada um tem sua função e, quando desempenhada bem, as chances de vitória são maiores! E, como não poderia deixar de ser, o time da UTI também precisa de um técnico. E o técnico é o médico coordenador: diariamente ele discute os casos de todos os pacientes com o médico plantonista e com a equipe multiprofissional a fim de alinhar condutas e garantir a linearidade do cuidado.
Atualmente diversas UTIs têm tido posturas mais permissivas quanto à presença de familiares. Quando eles são envolvidos no cuidado com o paciente, conseguimos reduzir o tempo de internação, falhas no tratamento e controlamos melhor sintomas como confusão mental e agitação. Nesse sentido, o familiar só se envolverá nos cuidados quando ele estiver compreendendo o que se passa com o paciente, qual a estratégia de tratamento, em qual momento da doença se está vivenciando e quais as perspectivas futuras. Portanto, prezamos que a comunicação entre o médico e os familiares seja sempre verdadeira, direta e inteligível.
A UTI não para e nem nossa vontade de cuidar! Para assegurar que tudo corra bem, também pensamos na possibilidade de erros humanos e tentamos minimizá-los. Para tanto, lançamos mão de protocolos. Eles garantem que medicamentos certos sejam administrados para o paciente certo, no momento certo. Garantem que os alarmes dos monitores estejam ajustados e que só soem quando necessário. Garantem a segurança de quem será submetido a uma intubação ou a punção de um acesso venoso. Garantem que o risco de infecções hospitalares seja menor. São tantos os cuidados de saúde organizados dessa forma, que elencá-los todos se torna uma tarefa difícil.
Durante o decorrer da doença o médico e os demais profissionais da UTI darão o melhor tecnicamente de acordo com o que o paciente precisa e de acordo com o que os familiares esperam. Na maioria das vezes, experimentamos o caminho da melhora, de modo que o paciente recebe alta para a enfermaria para que possa concluir o tratamento, já em uma situação clínica mais estável, antes de que possa ter alta para casa.
No entanto, mesmo com tamanho cuidado, conhecimento e organização, nem sempre as coisas saem do jeito que esperamos. Pela própria gravidade da doença, algumas vezes, não há tecnologia suficiente para que possamos curar o paciente. Não é incomum, portanto, que ele venha a falecer e, quando a cura não for possível, objetivamos o conforto e a dignidade daqueles que nos deixam. Em momento algum, os pacientes e seus familiares ficarão sozinhos: médico intensivista compreende que a doença não termina no paciente e o acolhimento dos familiares deve ser priorizado nesse momento.
Por fim, o cuidado com o paciente grave nos move e somos movidos pelo que amamos! Cuidar com carinho, respeito e, principalmente, com muito conhecimento é o caminho que trilhamos tendo como meta a melhoria constante de nossos serviços. Esse é o jeito certo de se conduzir uma UTI! Esse é o jeito PacienteGraveUTI®!