As novas recomendações da campanha “Choosing Wisely” em terapia intensiva

A campanha “Choosing Wisely” (escolhas sensatas) tem o objetivo principal de evitar o uso excessivo de atos médicos de baixo valor, ou seja, que têm menor probabilidade de causar benefício do que malefício. Ela fornece uma abordagem proativa para reduzir o desperdício, realizando recomendações conforme a melhor base de evidências disponíveis para melhorar os cuidados na terapia intensivas.

Os membros da sociedade de medicina de cuidados críticos identificaram as próximas cinco principais intervenções que foram utilizadas em excesso e não proporcionaram benefício aos pacientes.

  1. Não mantenha cateteres e drenos sem uma indicação clara.

O uso de dispositivos invasivos (drenos, cateter vesical, cateter venosos central…) é muito comum no universo da terapia intensiva, porém a sua presença está relacionada a aumento da chance de infecções, levando a maior tempo de internação, aumento dos custos e da chance de desenvolver resistência bacteriana. Desinvadir os pacientes assim que seja possível e preferencialmente de forma precoce é uma das formas mais eficientes de prevenir as infecções relacionadas à assistência a saúde.

 

  1. Não postergue a retirada da ventilação mecânica.

Mesmo que a ventilação mecânica invasiva seja fundamental para salvar a vida de muitos pacientes, sabe-se que a manutenção deste suporte artificial de vida está relacionada ao aumento de complicações, como imobilização; lesão induzida por ventilação; aumento de perda de massa magra (incluindo o diafragma) e da necessidade de sedação; maior chance de delirium, e anemia iatrogênica (coleta excessiva de exames); infecções de corrente sanguínea (presença de dispositivos vasculares)  e associadas à ventilação mecânica; além do aumento do tempo de permanência hospitalar. A implantação de protocolos de despertar diário e testes de respiração espontânea são ferramentas importantes para possibilitar a avaliação diária da retirada da ventilação.

 

  1. Não continue a terapia antibiótica se não houver evidência de necessidade

Apesar de várias sociedades orientarem o início precoce de antibióticos de largo espectro nos quadros infecciosos, em grande parte dos casos já existem evidências de que o uso por tempo curto é igualmente eficaz ao prolongado. Além disto a manutenção por tempo prolongado e de forma desnecessária pode levar a aumento de custos e a maior chance de resistência bacteriana. O ideal é sempre avaliar a possibilidade de um curso mais curto, descalonar quando possível e sempre suspender as medicações quando a hipótese de infecção for excluída.

 

  1. Não atrase a mobilização de pacientes de UTI.

Na doença crítica os pacientes podem desenvolver fraqueza e atrofia muscular que são potencializados pela imobilização. A mobilização de forma precoce, associada à interrupção diária da sedação melhoram o controle de delirium, aumentam os dias livres de ventilação mecânica, melhoram a força muscular, a funcionalidade e a qualidade de vida, além de reduzirem as reinternações em UTI. É importante lembrar também que o uso de drogas vasoativas, quando em doses estáveis, e a presença de cateteres femorais não são contraindicações para a mobilização.

 

  1. Não forneça cuidados que discordem dos objetivos e valores do paciente.

Conhecer os valores e as preferências dos pacientes é fundamental para a tomada de decisão e definição dos objetivos de cuidado. Os tratamentos devem ser avaliados de forma compartilhada e sempre respeitando o que realmente faz sentido para o paciente e seus familiares. Priorizar o conforto e a dignidade em detrimento a suportes artificiais de vida de enfermos em estado terminal possibilita um cuidado centrado no paciente, além de reduzir custos e sofrimento.

 

Referência

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33555779/

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